Praia versus subúrbio: a mobilidade carioca em xeque

Monica Sousa

Resumo


A proposta deste artigo é problematizar a produção de sentido no jornalismo quanto às disposições territoriais da cidade e a mobilidade. O ponto central na questão que nos é cara neste trabalho: a cidade como um constante processo que se desenha na mobilidade e no embate; o jornalismo como produtor de sentidos; e as heterotopias (FOUCAULT, 1967) em seus atravessamentos do comum constituídos de configurações diferentes, que saltam e revelam contradições outras de sentidos "moldados", reinterpretados e fendidos em outras esferas. Para isso, analisamos a cobertura do jornal O Globo nos primeiros 12 meses do Parque Madureira para assim articularmos as práticas dos espaços e as interfaces do ordenamento público para a questão da mobilidade pela cidade (e suas contradições de sentidos).

Palavras-chave


Jornalismo. Rio de Janeiro. Subúrbio. Mobilidade Urbana.

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Referências


FREIRE, Gilberto. “urubus vinham (...) pinicar os restos de comida e de bicho morto e até os corpos de negros que a Santa Casa não enterrava direito, nem na praia nem nos cemitérios (...) a maré subia e lavava a imundície das praias." (1977, p.195).

SANTOS, Leonardo. “um certo sentido depreciativo, que incluí não só uma ideia de recursos financeiros mais limitados, mas também um certo gênero de vida particular” (MATTOSO, Apud Santos, 2011, p. 5)

O que significa dizer que a territorialização se faz hoje em grande parte em torno desses diversos “territórios-redes”? Em primeiro lugar, que a possibilidade de usufruir de uma maior mobilidade é um fato, mas que a mobilidade é também um instrumento de poder extremamente diferenciado e que não pode ser sobrevalorizado, pois sabemos não só da enorme desigualdade no acesso a diferentes velocidades e tipos de deslocamento, como também de como o deslocamento rápido de uns afeta o tipo de deslocamento (e acesso a recursos) de outros, (HAESBAERT, 2004, p.300)

Há demasiado exemplos de consequências involuntárias (nos quais quem tem o poder define regras que solapam sua própria base de poder) e de grupos de oposição que aprendem e usam as regras para esmagar aqueles que as conceberam para que essa equação simples tenha credibilidade. Contudo, a hegemonia ideológica e política em toda sociedade depende da capacidade de controlar o contexto material da experiência pessoal e social. Por essa razão, as materializações e significados atribuídos ao dinheiro, ao tempo e ao espaço têm grande importância no tocante à manutenção do poder político. (HARVEY, s/d, p.58).

É que trem, bondes e, mais tarde, ônibus (e os sistemas viários correspondentes) só vieram “coisificar” um sistema de urbano preexistente, ou pelo menos um sistema de organização do espaço urbano, cujas premissas já estavam prontas em termos de representação ideológica do espaço e que apenas esperavam os meios de concretização. Em outras palavras, o bonde faz a Zona Sul, porque as razões de ocupação seletiva da área já eram “realidade” (...). (SANTOS, Apud Abreu, 2011, p. 44).


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