Proibição promocional: censura como marca de distinção no jornalismo

Ivan Paganotti

Resumo


Como é possível construir a credibilidade e a imagem de independência de um veículo de informação? Além do pacto de confiança concedido pelos leitores em resposta à qualidade, os próprios meios de comunicação buscam forjar uma imagem de críticos incômodos e representantes do interesse público ao ostentar, de modo inusitado, as marcas de processos judiciais. A prova de sua credibilidade, assim, partiria do atestado negativo da censura: se a publicação foi calada, é porque incomodava, não se submetia e era independente. O presente artigo sugere essa hipótese e avalia sua pertinência nos casos de autoproclamada censura de O Estado de S. Paulo e da revista Caras, avaliando como a proibição desses veículos pode ser usada na sua própria promoção por meio de uma valorização fetichista da censura como marca de distinção midiática.

Palavras-chave


comunicação; censura; liberdade de expressão; imprensa; credibilidade

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