Democracia, Liberalismo e Socialismo em Norberto Bobbio. Uma resposta a Vitullo e Scavo
Resumo
Resumo: O presente artigo é uma resposta a dois estudiosos brasileiros do pensamento de Bobbio: Eduardo Vitullo e Davide Scavo, que haviam criticado o filósofo italiano por: I) não deixar espaço para uma democracia pós-liberal; II) defender uma concepção de democracia elitista, conservadora, procedimental, e não ética; III) negar a possibilidade de uma democracia “autenticamente popular”, e abandonar qualquer aspiração igualitária, de justiça e de transformação social.
A relação entre liberalismo e democracia em Bobbio é complexa: ele reconhece que historicamente houve um liberalismo não democrático e uma democracia não liberal, mas que “hoje existem boas razões para crer que o método democrático seja necessário para a salvaguarda dos direitos fundamentais e que a salvaguarda desses direitos seja necessária para o correto funcionamento do Estado democrático”. Bobbio afirma que isto vale também para a relação entre democracia e socialismo: não é possível um socialismo sem democracia, que não é somente burguesa, mas universal; posição, aliás, que havia sido reconhecida por eminentes líderes comunistas italianos como Enrico Berlinguer.
O artigo então abre um breve parêntese para analisar a posição de Marx e do marxismo em relação à democracia liberal, a partir de A Questão Judaica e da Crítica ao Programa de Gotha, até chegar ao debate entre Kautsky e Lenin sobre a ditadura do proletariado e o caráter da revolução soviética entre o comunismo reformista e revolucionário. Retomando a Bobbio, o artigo enfrenta a crítica, em relação ao procedimentalismo e elitismo de Bobbio, defendendo a tese da compatibilidade da democracia como regra do jogo, e como valor ético-político e do elitismo com a participação popular, ou seja, entre democracia representativa e democracia participativa. Por outro lado, é verdade que Bobbio não é fautor de uma “democracia popular”, que ele chama de plebiscitária e que pode levar a tirania da maioria.
Finalmente o artigo aborda o tema da diferença entre liberalismo político e econômico (ou liberismo): Bobbio é um liberal, mas defensor do liberalismo político e não do liberalismo econômico; aliás, é um crítico do neoliberalismo que ressurgiu após a queda do muro de Berlim, que ele considera não somente uma ameaça ao Estado do bem-estar social, mas a própria democracia. A proposta de Bobbio é a superação das antíteses entre liberalismo e socialismo, aparentemente irreconciliáveis, afastando as posições extremas e defendendo um socialismo reformista, liberal-democrático ou social-democrático.
O artigo termina afirmando que o pensamento de Bobbio – com o seu reformismo e moderatismo, a ojeriza ao fanatismo, a opção pelo diálogo, pela tolerância, pelo entendimento entre concepções antagônicas, a conciliação da liberdade com a igualdade – constitui uma preciosa herança que devemos cultivar, adaptar e superar para entender os tempos complexos que estamos vivendo.
Palavras-chave: Democracia. Liberalismo. Socialismo. Liberal-socialismo. Socialdemocracia.
Resumen: El presente artículo es una respuesta a dos estudiosos brasileños del pensamiento de Bobbio, Eduardo Vitullo y Davide Scavo, que habían criticado al filósofo italiano por: I) no dejar espacio para una democracia post-liberal; II) defender una concepción de democracia elitista, conservadora, procedimental, y no ética; III) negar la posibilidad de una democracia “auténticamente popular”, y abandonar cualquier aspiración igualitaria, de justicia y de transformación social.
La relación entre el liberalismo y la democracia en Bobbio es compleja: reconoce que históricamente ha habido un liberalismo no democrático y una democracia no liberal, pero que “hoy existen buenas razones para creer que el método democrático es necesario para la salvaguardia de los derechos fundamentales y que salvaguardia de esos derechos sea necesaria para el correcto funcionamiento del Estado democrático “. Bobbio afirma que esto vale también para la relación entre democracia y socialismo: no es posible un socialismo sin democracia, que no es sólo burguesa, sino universal; posición, por otra parte, que había sido reconocida por eminentes líderes comunistas italianos como Enrico Berlinguer.
El artículo entonces abre un breve paréntesis para analizar la posición de Marx y del marxismo en relación a la democracia liberal, a partir de La cuestión judía y de la Crítica al programa de Gotha, hasta llegar al debate entre Kautsky y Lenin sobre la dictadura del proletariado y el carácter de la revolución soviética entre el comunismo reformista y revolucionario. El artículo enfrenta a la crítica, en relación al procedimentalismo y elitismo de Bobbio, defendiendo la tesis de la compatibilidad de la democracia como regla del juego, y como valor ético-político y del elitismo con la participación popular, es decir, entre democracia representativa y democracia participativa. Por otro lado, es cierto que Bobbio no es un defensor de una democracia popular, que él llama plebiscitaria y que puede llevar la tiranía de la mayoría.
Finalmente el artículo aborda el tema de la diferencia entre liberalismo político y económico (o liberismo): Bobbio es un liberal, pero defensor del liberalismo político y no del liberismo económico; es un crítico del neoliberalismo que resurgió tras la caída del muro de Berlín, que él considera no sólo una amenaza al Estado del bienestar social, sino a la propia democracia. La propuesta de Bobbio es la superación de las antítesis entre liberalismo y socialismo, aparentemente irreconciliables, alejando las posiciones extremas y defendiendo un socialismo reformista, liberal-democrático o social democrático.
El artículo termina afirmando que el pensamiento de Bobbio – con su reformismo y moderatismo, la ojeriza al fanatismo, la opción por el diálogo, la tolerancia, el entendimiento entre concepciones antagónicas, la conciliación de la libertad con la igualdad – constituye una preciosa herencia que, debemos cultivar, adaptar y superar para entender los tiempos complejos que estamos viviendo.
Palabras clave: Democracia. Liberalismo. Socialismo. Liberal-socialismo. Socialdemocracia.
Abstract: This article is a response to two Brazilian scholars of Bobbio, Eduardo Vitullo and Davide Scavo, who had criticized the Italian philosopher for: I) leaving no space for a post-liberal democracy; II) to defend a conception elitist, conservative, procedural, and not ethics of democracy; III) deny the possibility of an “authentically popular” democracy, and abandon any egalitarian aspiration of justice and social transformation.
The relationship between liberalism and democracy in Bobbio is complex: it recognizes that there has historically been undemocratic liberalism and a non-liberal democracy, but that “there is good reason today to believe that the democratic method is necessary for the safeguarding of fundamental rights and that safeguarding of those rights is necessary for the proper functioning of the democratic state”. Bobbio affirms that this also applies to the relationship between democracy and socialism: there is not a socialism without democracy, which is not only bourgeois but also universal; that had been recognized by eminent Italian communist leaders like Enrico Berlinguer.
The article then opens a brief parenthesis to analyze the position of Marx and Marxism in relation to liberal democracy, from The Jewish Question and the Critique to the program of Gotha, until the debate between Kautsky and Lenin on the dictatorship of the proletariat and the character of the Soviet revolution between reformist and revolutionary communism.
The article confronts the criticism, in relation to the proceduralism and elitism of Bobbio, defending the thesis of the compatibility of democracy as “rule of the game”, and as ethical-political value, and between elitism and popular participation, that is, between representative democracy and participatory democracy. On the other hand, it is true that Bobbio is not an advocate of a popular democracy, which he calls “plebiscitary” and that can carry the tyranny of the majority.
Finally the article addresses the issue of the difference between political and economic liberalism (or liberism): Bobbio is a liberal, but a defender of political liberalism and not of economic liberalism; is a critic of neoliberalism that reemerged after the fall of the Berlin Wall, which he considers not only a threat to the welfare state, but also to democracy itself. Bobbio’s proposal is to overcome the antithesis between liberalism and socialism, seemingly irreconcilable, moving away from the extreme positions and defending a reformist, liberal-democratic or social-democratic socialism.
The article ends by stating that Bobbio’s thought – with its reformism and moderation, his opposition to fanaticism, the option for dialogue, tolerance, understanding between conflicting conceptions, the reconciliation of liberty with equality – constitutes a precious inheritance that we must cultivate, adapt and overcome to understand the complex times that we are living.
Keywords: Democracy. Liberalism. Socialism. Liberal-socialism. Social Democracy.
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