Os direitos fundamentais não são direitos humanos positivados (e é bom para ambos que assim seja)

Paola Cantarini Guerra, Willis SAntiago Guerra Filho

Resumo


Resumo: É usual definir os direitos fundamentais como sendo direitos humanos positivados, confundindo-se os dois conceitos, da mesma forma como se costuma confundir os conceitos de dimensões e de gerações de direitos humanos. Metodologicamente, procede-se a uma análise que pretende trazer à luz as principais características dos direitos fundamentais e dos direitos humanos e a diferenciação entre ambos, sob o fundamento principal de que os direitos fundamentais não são direitos humanos positivados (e é bom para ambos que assim seja). Entendemos que tal definição erra duplamente o seu alvo, pois através dela nem os direitos humanos, nem os direitos fundamentais são entendidos devidamente. Haveria, ainda, quem erre, por assim dizer, triplamente, ao fundir as duas categorias em uma só, referida como “direitos humanos fundamentais”. Referida distinção, contudo, é até mesmo, de certa maneira, consagrada de forma expressa no texto constitucional, por força da Emenda Constitucional de número 45, de 08. 12. 2004, ao acrescentar um quinto parágrafo ao art. 109 da Constituição da República. Ademais, adotando metodologia histórica, ou seja, investigando uma dimensão empírica, aquela da experiência jurídica histórica e diuturnamente acumulada entre os povos, os direitos fundamentais em geral são, ou foram, originalmente, direitos humanos. Contudo, estabelecendo um corte epistemológico, para estudar sincronicamente os direitos fundamentais, devemos distingui-los, enquanto manifestações positivas de um Direito interno, com aptidão para a produção de efeitos no plano jurídico neste mesmo, dos direitos humanos, enquanto pautas ético-políticas, “direitos morais”, situados em uma dimensão supra-positiva, deonticamente diversa daquela em que se situam as normas jurídicas de Direito interno. Já no âmbito do próprio direito interno, para melhor atinarmos ao alcance do quanto aqui se propõe, há que se distinguirem direitos fundamentais dos “direitos de personalidade”, por serem esses direitos que se manifestam em uma dimensão privatista, onde também se manifestam os direitos fundamentais, mas de forma indireta, reflexa. Por outro lado, numa dimensão publicista, não há que se confundirem direitos fundamentais com “direitos subjetivos públicos”, pois se os primeiros são direitos que os sujeitos gozam perante o Estado, sendo, portanto, nesse sentido, direitos subjetivos públicos, não há aí uma relação biunívoca, já que nem todo direito subjetivo público é direito com a estatura constitucional de um direito fundamental. Além disso, os direitos fundamentais não têm apenas uma dimensão subjetiva, mas também, uma outra, objetiva, donde se falar em seu “duplo caráter”, preconizando-se por isso a figura do status como mais adequada do que a do direito subjetivo para categorizá-los, pois do status brotam inúmeras situações jurídicas, tanto subjetivas como objetivas, sendo direitos subjetivos apenas uma das possíveis modalidades, assim como garantias institucionais são outras etc. A dimensão objetiva é aquela onde os direitos fundamentais se mostram como princípios conformadores do modo como o Estado que os consagra deve organizar-se e atuar. Os direitos humanos, por seu turno, estão embasados em muitos aspectos pela incidência de referenciais religiosos, e não unicamente cristãos, embora seja inquestionável a origem cristã do universalismo e da própria ideia de direitos subjetivos. E é a partir deste pano de fundo religioso ou espiritual que se vem afirmando direitos de entes naturais bem como descortina-se a possibilidade de atribuir personalidade jurídica também a entes artificiais já não estamos certos de que se possa dizer estar diante de direitos humanos, mas com certeza será possível considerar que estamos ante direitos fundamentais, que podem ser de novas gerações deles, mas não deixam de integrar a terceira e mais difusa dimensão dentre elas.

Palavras-chave: Direitos Humanos. Direitos Fundamentais. Figuras afins. Formação histórica.

 

Resumen: Es habitual definir los derechos fundamentales como derechos humanos positivos, confundiendo los dos conceptos, así como los conceptos de dimensiones y generaciones de derechos humanos a menudo se confunden. Metodológicamente, procedemos a un análisis que apunta a sacar a la luz las características principales de los derechos fundamentales y los derechos humanos y la diferenciación entre ellos sobre la base de que los derechos fundamentales no son derechos humanos positivos (y es bueno que ambos lo hagan). Entendemos que tal definición pierde su objetivo dos veces, porque a través de ella no se comprenden adecuadamente ni los derechos humanos ni los derechos fundamentales. También habría quienes erran, por así decirlo, triplicando al fusionar las dos categorías en una, denominada “derechos humanos fundamentales”. Dicha distinción, sin embargo, es incluso, hasta cierto punto, expresamente consagrada en el texto constitucional, en virtud de la Enmienda Constitucional número 45 del 12/08/2004, al agregar un quinto párrafo al art. 109 de la Constitución de la República. Además, con adoptar una metodología histórica, es decir, de investigar en la dimensión empírica, aquella de la experiencia jurídica histórica y cotidiana acumulada entre los pueblos, los derechos fundamentales en general son o fueron originalmente derechos humanos. Sin embargo, al establecer un corte epistemológico, para estudiar los derechos fundamentales sincrónicamente, debemos distinguirlos como manifestaciones positivas del derecho interno, con la capacidad de producir efectos legales sobre los mismos derechos humanos como pautas ético-políticas, Los “derechos morales”, situados en una dimensión supra-positiva, deónicamente diferentes de aquellos en los que se sitúan las normas legales del derecho interno. Ya dentro del alcance de la legislación nacional, para comprender mejor el alcance de lo que se propone aquí, es necesario distinguir los derechos fundamentales de los “derechos de personalidad”, porque estos derechos se manifiestan en una dimensión privatista, donde los derechos también se manifiestan. fundamental, pero indirectamente, reflexivamente. Por otro lado, en una dimensión publicista, no es necesario confundir los derechos fundamentales con los “derechos subjetivos públicos”, ya que si los primeros son derechos que los sujetos disfrutan ante el Estado, siendo, en este sentido, derechos subjetivos públicos, no existe una relación bidireccional, ya que no todos los derechos subjetivos públicos son correctos con la estatura constitucional de un derecho fundamental. Además, los derechos fundamentales no solo tienen una dimensión subjetiva, sino también una dimensión objetiva, desde la cual hablar de su “doble carácter”, por lo que defienden la figura de estatus como más apropiada que la de la ley subjetiva. categorizarlos, porque del estado brotan innumerables situaciones legales, tanto subjetivas como objetivas, siendo los derechos subjetivos solo una de las modalidades posibles, así como las garantías institucionales son otras. La dimensión objetiva es que donde los derechos fundamentales son vistos como principios conformes de la forma en que el estado que los consagra debe ser organizado y actuar. Los derechos humanos, a su vez, se basan en muchos aspectos en la incidencia de referencias religiosas más que cristianas, aunque el origen cristiano del universalismo y la idea misma de los derechos subjetivos es incuestionable. Y es a partir de este trasfondo religioso o espiritual que se están afirmando los derechos de los seres naturales, así como la posibilidad de atribuir personalidad jurídica a los artificiales también. Ya no estamos seguros de que se pueda decir que está frente a los derechos humanos. Ciertamente será posible considerar que nos enfrentamos a derechos fundamentales, que pueden ser de las nuevas generaciones, pero que, sin embargo, son parte de la tercera y más difusa dimensión entre ellos.

Palabras clave: Derechos humanos. Derechos fundamentales Figuras relacionadas Formación histórica

 

Abstract: It is usual to define fundamental rights as positive human rights, confusing the two concepts, just as the concepts of dimensions and generations of human rights are often confused. Methodologically, we proceed to an analysis that aims to bring to light the main features of fundamental rights and human rights and the differentiation between them on the main ground that fundamental rights are not positive human rights (and it is good for both of them to do so). We understand that such a definition misses its target twice, because through it neither human rights nor fundamental rights are properly understood. There would also be those who err, as it were, triple by merging the two categories into one, referred to as “fundamental human rights”. Such distinction, however, is even, to a certain extent, expressly enshrined in the constitutional text, by virtue of Constitutional Amendment number 45 of 12/08/2004, by adding a fifth paragraph to art. 109 of the Constitution of the Republic. Moreover, adopting historical methodology, that is, investigating the empirical dimension, the point of view of historical and daily accumulated legal experience among peoples, fundamental rights in general are or were originally human rights. However, in establishing an epistemological cut, to study fundamental rights synchronously, we must distinguish them as positive manifestations of domestic law, with the ability to produce legal effects on the same, human rights as ethical-political guidelines, “Moral rights”, situated in a supra-positive dimension, deontically different from that in which the legal norms of domestic law are situated. Already within the scope of domestic law, to better understand the scope of what is proposed here, it is necessary to distinguish fundamental rights from “personality rights”, because these rights are manifested in a privatist dimension, where the rights also manifest themselves. fundamental, but indirectly, reflexively. On the other hand, in a publicist dimension, it is not necessary to confuse fundamental rights with “public subjective rights”, since if the former are rights that the subjects enjoy before the State, being, in this sense, public subjective rights, there is no a two-way relationship, since not every public subjective right is right with the constitutional stature of a fundamental right. In addition, fundamental rights have not only a subjective dimension, but also an objective dimension, from which to speak of their “double character”, thus advocating the status figure as more appropriate than that of subjective law. categorize them, because from the status sprout innumerable legal situations, both subjective and objective, being subjective rights only one of the possible modalities, as well as institutional guarantees are others. The objective dimension is that where fundamental rights are seen as conforming principles of the way the state that consecrates them must be organized and act. Human rights, in turn, are based in many respects on the incidence of religious rather than solely Christian references, although the Christian origin of universalism and the very idea of subjective rights is unquestionable. And it is from this religious or spiritual background that the rights of natural beings are being affirmed, as well as the possibility of attributing legal personality to artificial ones as well. We are no longer certain that it can be said to be in the face of human rights. It will certainly be possible to consider that we are facing fundamental rights, which may be of new generations of them, but they are nonetheless part of the third and most diffuse dimension among them.

Keywords: Human rights. Fundamental rights. Related figures. Historical formation.


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